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Bolognesi, B., Ribeiro, E., & Codato, A.. (2023). A New Ideological Classification of Brazilian Political Parties. Dados, 66(2), e20210164. Just as democratic politics changes, so does the perception about the parties out of which it is composed. This paper’s main purpose is to provide a new and updated ideological classification of Brazilian political parties. To do so, we applied a survey to political scientists in 2018, asking them to position each party on a left-right continuum and, additionally, to indicate their major goal: to pursue votes, government offices, or policy issues. Our findings indicate a centrifugal force acting upon the party system, pushing most parties to the right. Furthermore, we show a prevalence of patronage and clientelistic parties, which emphasize votes and offices rather than policy. keywords: political parties; political ideology; survey; party models; elections

24 de outubro de 2014

racismo de classe e eleições brasileiras de 2014

[European Pressphoto Agency] 

Racismo de classe

Gazeta do Povo
24 out. 2014

Adriano Codato

Fábia Berlatto

O racismo de classe explicitado nas eleições brasileiras desse ano ultrapassou os limites da convivência civilizada.

Autorizar-se a exibir ostensivamente preconceito social, discriminação regional, superioridade étnica em relação à categoria social dos pobres, ao contrário do que se pensa, não é um direito autêntico da sociedade democrática. Por que? Porque pressupõe e defende hierarquias “naturais”, “culturais” e, com base nelas, cria duas classes de pessoas: os politicamente competentes e os politicamente incompetentes.

O racismo de classe funciona conforme a mecânica perversa de todo o preconceito. Enquanto no racismo tradicional o sentimento de superioridade é dirigido a uma etnia (“raça”) considerada inferior, seja por razões biológicas, seja por razões históricas, o racismo de classe se dirige a um grupo por suas características socioeconômicas e constrói, sobre ele, toda sorte de fantasias.

Os pobres são ignorantes porque desconhecem as informações verdadeiras que nós possuímos sobre os políticos, a economia, etc.. São irracionais, porque as razões que dirigem seu voto são ilegítimas para nossas prioridades. E são incompetentes, porque, afinal, são pobres.

Três exemplos ajudam a ilustrar o que estamos falando. Em setembro, a Associação Comercial e Industrial de Ponta Grossa editou um manual defendendo que os favorecidos pelo Bolsa Família tivessem seus direitos políticos suspensos. Em outubro, publicados os resultados do primeiro turno, o ódio “aos nordestinos” voltou mais agressivo e menos constrangido do que em 2010. Agora, conforme a campanha eleitoral foi se tornando mais competitiva, o delírio do anticomunismo mais extrovertido e as oposições mais confiantes, um economista de televisão pontificou no Facebook que “Quem estuda, não vota na Dilma”. O esplendor dessa campanha foi atingido por um colunista social que sugeriu trancar em casa, no dia da eleição, as empregadas domésticas e os porteiros dos prédios para que não votassem na situação.

Segundo o conhecimento comum, o preconceito é filho da ignorância. O otimismo dessa sentença moral está em acreditar que os dados objetivos e o diálogo racional funcionem como instrumento de dissuasão e de pacificação. Ocorre que a psicologia do racismo é alimentada pela paixão e pelo medo. Assim, pouco importa demonstrar que beneficiários de programas sociais não votam, como autômatos, “no PT” nem se convertem, como fanáticos, em petralhas Votam racionalmente e preferencialmente na “situação”, isto é, no governo, em qualquer governo (http://bit.ly/1wuE0hh). Ou que a divisão do voto no Brasil (agora e em 2010) não é geográfica, mas social (http://bit.ly/1wuEcNC).

As opiniões preconceituosas não são, entretanto, apenas falta de modos civilizados ou intolerância. Elas são também a expressão de um mal-estar maior. O que aparece como condenação ao governo de hoje (seus feitos e malfeitos) é, na realidade, uma condenação da própria Política.

Campanhas de oposição a governos podem ser politicamente agressivas, exibir estatísticas verdadeiras, manipular outras informações nem tão verdadeiras e reafirmar fanaticamente as convicções partidárias mais delirantes. Campanhas pró-governo, idem.

Mas o que não se pode fazer, numa sociedade democrática, é advogar a ideia de que há duas classes de pessoas: as que votam bem e as que votam mal.

A ideia liberal “um homem, um voto” até pode ser uma ficção jurídica, mas, no contexto em que vivemos, tem sua função civilizadora.

Adriano Codato é doutor em Ciência Política pela Unicamp e professor de Ciência Política na Universidade Federal do Paraná. É editor da Revista de Sociologia e Política (UFPR) e da revista Paraná Eleitoral (TRE-PR). Coordena o Observatório de elites políticas e sociais do Brasil (http://observatory-elites.org/).

Fábia Berlatto é professora do curso de Especialização em Sociologia Política na Universidade Federal do Paraná e integrante do Centro de Estudos de Segurança Pública e Direitos Humanos da UFPR. Atualmente, é doutoranda em Sociologia na mesma universidade.
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