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29 de junho de 2012

Weber e a burocracia chinesa

[Regent of 10th Panchen Lama, 
Lo Sh'ang Chien Chan, outdoors, 
smiling slightly, wearing Chinese dress 
and mandarin's cap at Kumbum Lamasery.
1947, Mark Kauffman. Life]

Trecho traduzido de: KRAUS, Richard Kraus, “The Chinese State ad Its Bureaucrats”. In NEE, Victor & MOZINGO, David (org) State and Society in Contemporary China. Ithaca e Lobdres: Cornell University Press, 1983.  


"É fácil descartar como um jogo de salão a comparação entre os elementos oriundos da sociedade chinesa imperial e da contemporânea. Mas após refletir sobre a analogia entre marxismo e confucionismo, e argumentado contra a noção superficial de que nada mudara na China, Joseph Levenson afirmou: “Ainda, a aparência de sobrevivências não é, de forma alguma, uma ilusão de ótica. Muitos tijolos da antiga estrutura ainda estão por aí – mas não a estrutura. Fragmentos podem sobreviver por que descobriram um novo apelo, não por que carreguem (mais do que os fragmentos esquecidos) a essência de uma tradição invencível[1]. Entre os fragmentos da velha estrutura que têm sido, na nova, assiduamente cultivados, há uma sensibilidade organizacional que foi há muito analisada por Max Weber sob a rubrica do patrimonialismo[2]. Segundo a leitura de Reinhardt Bendix, “Weber usou o termo para se referir a qualquer tipo de governo organizado como maior ou menor extensão da casa real. Funcionários são, na origem, servidores da casa, e permanecem dependentes do governante pelo tempo que o patrimonialismo permanecer intacto”[3].  

É claro, os escritos de Weber sobre a China foram baseados em fontes secundárias, muitas das quais têm sido superadas, no detalhe e na interpretação fundamental, pela pesquisa acadêmica contemporânea sobre a China. Mas o significado na incursão de Weber na sociologia histórica chinesa não está na acurácia de sua sinologia, mas na persistente utilidade do tipo-ideal através do qual procurou capturar uma dinâmica fundamental da vida política chinesa. Weber elaborou sua oposição entre governante e casa real em uma característica patrimonial ampla, de tensão criativa entre o monarca e o funcionalismo. Os escritos de Levenson são o esforço contemporâneo mais notável de interpretação da política imperial chinesa como uma tensão mútua entre trono e funcionários, uma oposição vital de interesses que por longo tempo animou a cultura da política chinesa[4].

 Muitas das características do regime patrimonial, como a distinção radical entre educados e iletrados, têm sido vigorosamente combatida pelo Partido Comunista. Parece também que a luta contra o passado mandarim da China tem sido fortemente colorizada por esta tradição burocrática patrimonial. Como Levenson sugere, as semelhanças são muito freqüentes para serem ignoradas. Como a antiga gentry, os quadros socialistas advogam por uma burocracia aberta e não hereditária, formada por funcionários generalistas. A oposição maoísta entre adesão doutrinária[5] e expertise ecoa a máxima confuciana: um cavaleiro não é uma ferramenta. Literatos e quadros enfatizam a persuasão moral como um dispositivo para governar preferível à legislação fixa, e modelos de virtude são ainda propagados como exemplo para a população. Enquanto as lições aprendidas de Marx, Engels, Lênin e Mao seguramente diferem em conteúdo daquelas presentes em Confúcio, Mêncio, e nas histórias dinásticas, a suposição de que a sabedoria pode se derivar do judicioso estudo dos textos clássicos permanece constante. O entusiasmo contemporâneo por projetos de construção em massa lembra a antiga corvéia; ambos se enquadram numa tradição de supervisão estatal de obras públicas. Novamente, o modelo patrimonial chama a atenção para a importância da intriga na corte – vários grupos buscando a atenção do imperador. A queda de Lin Bao ou da Gangue dos Quatro foi, com certeza, mais complexa que as maquinações dos eunucos do palácio, mas o paralelo demanda um exame mais apurado do que aquele que normalmente recebe.

Existe uma tentação de explicar tal paralelo apenas por características culturais; depois de tudo, a ascendência do mandarinato imperial persistiu por vários séculos, e suas orientações relacionadas à vida política não parecem prestes a desaparecer. Mas a dica de Levenson, de que se deve procurar pelos fatores estruturais para se explicar tais sobrevivências, demanda que façamos mais do que descartar, como vestígio, características patrimoniais do Estado chinês contemporâneo. Weber insiste que “acima de tudo, a função patrimonial não conhece a separação das esferas privada e da função”[6]. Traçando uma clara distinção entre o que via como uma administração burocrática “moderna” e uma administração patrimonial, Weber oferece um ponto que é aplicável também a um estado socialista em que funcionários não dispõem de recursos materiais independentes:

“Portanto, em contraste com a burocracia, a posição do funcionário patrimonial deriva de uma submissão puramente pessoal ao governante, e sua posição face aos diferentes temas é meramente o aspecto externo dessa relação. Mesmo quando o funcionário político não é um dependente pessoal da casa real, o governante exige obediência administrativa incondicional. A lealdade do funcionário patrimonial à função... não é um compromisso impessoal... face a tarefas impessoais, o que define sua extensão e seu conteúdo. É, antes, uma lealdade de servidor baseada numa estrita relação pessoal com o governante, e numa obrigação de fidelidade que, em princípio, não reconhece limite”."[7]

[1] LEVENSON, Richard R. Confuncian China and Its Modern Fate, 3 vols. Berkeley & Los Angeles: University of California Press, 1972, v.3, p.113. 
[2] WEBER, Max. The religion of China. New York: Free press, 1951; Economy and Society. New York: Bedminster Press, 1968. 
[3] BENDIX, Reinhardt. Max Weber: An Intellectual Portrait. Garden City: Anchor Books, 1962, p.100. 
[4] A relação entre os escritos de Levenson e de Weber sobre patrimonialismo é discutida por Frederic Wakeman Jr, “A Note on the Development of the Theme of Bureaucratic-Monarchic Tension in Joseph R. Levenson’s Work” In: The Mozartian Historian: Essays on the Works of Joseph Levenson, organizado por Maurice Meisner e Rodhes Murphey (Berkeley & Los Angeles: University of California Press, 1976, PP.123-133). 
[5] Nota de tradução: no original “redness”, vermelhidão. 
[6] Weber, Economy and Society, pp.1028-1031. 
[7] Ibid., pp.1030-1031. 


¿Pomelo ou Guaraná?: Weber e a burocracia chinesa.: Trecho traduzido de: KRAUS, Richard Kraus, “The Chinese State ad Its Bureaucrats”. In NEE, Victor & MOZINGO, David (org) State and Society i...
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