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Bolognesi, B., Ribeiro, E., & Codato, A.. (2023). A New Ideological Classification of Brazilian Political Parties. Dados, 66(2), e20210164. Just as democratic politics changes, so does the perception about the parties out of which it is composed. This paper’s main purpose is to provide a new and updated ideological classification of Brazilian political parties. To do so, we applied a survey to political scientists in 2018, asking them to position each party on a left-right continuum and, additionally, to indicate their major goal: to pursue votes, government offices, or policy issues. Our findings indicate a centrifugal force acting upon the party system, pushing most parties to the right. Furthermore, we show a prevalence of patronage and clientelistic parties, which emphasize votes and offices rather than policy. keywords: political parties; political ideology; survey; party models; elections

12 de fevereiro de 2009

criacionismo, design inteligente e outras mistificações regressivas


[Live Galapagos tortoise,
ancient representation
of a dying species.
Yale Joel. 1969. Life]

Artigo desmistificador sobre o ensino de outras "teorias" a respeito da origem das espécies; a CIÊNCIA não é um ponto de vista entre outros. fim de história.



O ensino de criacionismo em aulas de ciências
Roberto Berlinck e Hamilton Varela
JC e-mail 3700, de 11 de Fevereiro de 2009.

Desde o final de 2008 ganhou notoriedade o fato de que escolas da rede particular, de caráter confessional, ensinam criacionismo em aulas de ciências (“O Estado de São Paulo”, 08/12/2008; “Folha de São Paulo”, 13/12/2008). Como é relevante que o Estado brasileiro esclareça seu papel com relação a conteúdos ministrados por essas escolas, é importante discutir as possíveis razões, implicações e consequências do ensino do criacionismo.

Historicamente esse problema não é novo. Nos Estados Unidos, a pressão para o ensino do criacionismo nas escolas é intensa, e resultou em vários processos jurídicos, como por exemplo no Tennessee em 1925, Arkansas em 1981, Louisiana em 1987 e na Pennsilvania em 2005.

Entre esses, o caso de Tennessee foi particularmente nefasto ao sistema educacional norte-americano, e resultou no fim do ensino da teoria da evolução nas escolas americanas e a supressão da teoria da evolução dos livros didáticos. Apenas quando os russos lançaram o Sputnik para o espaço, nos anos 60, os políticos e educadores norte-americanos se deram conta da importância do ensino de ciências nas escolas para a boa formação dos estudantes. Desde então o ensino da teoria da evolução voltou a fazer parte dos currículos escolares.

Os avanços científicos das últimas três décadas tornaram-se um sério incômodo para aqueles que acreditam ser importante o ensino do criacionismo nas escolas. Isso porque a teoria da evolução ganha cada vez mais força e repercussão, pelas inúmeras, crescentes e contumazes evidências acumuladas ao longo de 150 anos de que os organismos vivos evoluíram através de processos de seleção natural.

Com o aumento do acesso à informação científica, principalmente através da televisão, séries de DVDs e internet, pela mídia impressa e eletrônica, defensores do ensino do criacionismo criaram uma verdadeira “frente de batalha” para inserir o criacionismo no currículo escolar.

Um dos principais argumentos utilizado pelos que advogam o ensino do criacionismo diz respeito às eventuais “contradições da teoria da evolução”. A teoria da evolução é certamente uma das mais testadas teorias científicas e, desde a sua proposição, vem sendo continuamente refinada. Contribuições originadas em diferentes subáreas do conhecimento são continuamente incorporadas à teoria da evolução.

Como exemplo, pode-se citar os conceitos de evolução desenvolvimental, cladística, transposons, relógios moleculares, mutações neutras, endossimbiose, equilíbrio pontuado, epigenética, transferência horizontal de genes e hipermutação somática. Todas estas propostas foram formuladas tendo a teoria da evolução como base para a sua fundamentação.

Livros-texto de biologia incluem a teoria da evolução em seus primeiros capítulos, de forma a fornecer elementos que permitam ao estudante estabelecer as necessárias conexões filogenéticas e taxonômicas entre os organismos vivos. Conceitos como evolução, sistemas de classificação e teoria sintética da evolução fazem hoje parte do currículo escolar e são requisito em exames de vestibular.

Independentemente das eventuais contradições sugeridas, o fato da teoria da evolução ser testável por si só é suficiente para encerrar controvérsias. De fato, a possibilidade de ser refutada é exatamente uma das premissas necessárias a uma teoria científica. Em contraste, o criacionismo simplesmente não pode ser testado nem refutado.

Adicionalmente, as fontes utilizadas para o ensino do criacionismo mais confundem do que esclarecem, desinformam e ofuscam o pensamento crítico, pois se baseia na crença sem evidências. Assim, argumentar que existem controvérsias na teoria da evolução, ou que esta ainda não é aceita por todos os cientistas, ou que a teoria da evolução não apresenta evidências suficientes, e se baseia em pressupostos questionáveis, é mal intencionado e falacioso.

O suspiro mais recente dos religiosos que defendem o criacionismo surgiu com o título de “teoria do design inteligente (TDI)”. Segundo a TDI, processos macroevolutivos e sistemas biológicos de complexidade irredutível, dentre outros “fenômenos naturais inexplicáveis”, poderiam ser explicados. Tais idéias tiveram nascimento nos anos 1950 nos EUA, quando da publicação do livro The Bible and Modern Science por Henry M. Morris (1951).

A TDI foi adotada por seguidores fanáticos de Morris, os quais usam de uma estratégia denominada de “a cunha” (the wedge) para fazer valer seus argumentos. Tal estratégia se baseia em “encontrar falhas” na teoria da evolução e no método científico, para então “enfiar” pressupostos e citações descontextualizadas que dão suporte à TDI.

Todavia, pelo fato de seus autores não terem apresentado nenhuma evidência experimental para suas suposições, a TDI sequer foi considerada pela comunidade científica, por se basear em fundamentos falsos e pseudo-científicos.

Após 12 anos da publicação de “A caixa preta de Darwin”, o termo “intelligent design” não é mencionado em uma única publicação científica como possível explanação para fenômenos biológicos relacionados a processos evolutivos no ISI Web of Science. Mesmo assim, segundo a Folha de S. Paulo deste domingo (11/2), cerca de 50% dos britânicos acreditam no design inteligente. Isso porque os defensores da TDI ocupam a mídia, em todas as suas formas, fazendo valer idéias espúrias e distorcidas sobre a evolução biológica e a complexidade dos sistemas biológicos.

Não cabe aqui uma discussão detalhada sobre as idéias e propostas apresentadas na proposta da TDI. Estas já foram amplamente debatidas e refutadas por vários autores. O fato da TDI não ter sido aceita pela comunidade científica como uma teoria alternativa ou complementar para explicar fenômenos biológicos “inexplicáveis” relacionados à teoria da evolução encerra a discussão no âmbito científico.

No entanto, na falta de argumentos que sustentem o ensino do criacionismo, do TDI e de suas vertentes em salas de aula de ciências, seus defensores apelam para “igualdade de direitos, de oportunidade e tempo” para que os alunos possam ter conhecimento sobre “as duas faces” da razão da diversidade biológica: evolução e criacionismo. Sustentam que não há democracia, que a ciência é um dogma, que os cientistas são tão ou mais fundamentalistas do que fundamentalistas religiosos.

Na verdade, a ciência é formada, em sua base, pela troca de idéias e novas abordagens, que a tornam fruto de continua renovação através do debate contínuo dos fenômenos naturais. É de se lamentar que argumentos desta natureza possam servir de base para a justificativa do ensino do criacionismo ou da TDI (que não passa de criacionismo travestido de pseudociência) em aulas de ciências, ou de qualquer outra matéria, em escolas do segundo grau.

Assim, seria plenamente justificável que se ensinasse qualquer coisa, sem qualquer critério: que a Terra é plana e o centro do universo; que o homem nunca foi à Lua; que o ex-beatle Paul McCartney foi assassinado e na verdade o cantor atual é um sósia; que existem ETs; etc. No máximo, o criacionismo pode ser apresentado em aulas de filosofia, sociologia, religião, teologia ou história das religiões, mas nunca em aulas de ciência ou como uma teoria científica.

Finalmente, cabe assinalar as consequências da (de)formação de estudantes aos quais são apresentados dois “pontos de vista” sobre o surgimento da biodiversidade do planeta. O que se espera de estudantes que tenham estudado o criacionismo como base para a explicação da diversidade da vida no nosso planeta? Que possam desfrutar de uma formação educacional de alta qualidade, como é desejável? Que possam realizar exames vestibulares sem serem prejudicados?

Que possam vir a exercer profissões de extrema importância em biotecnologia, medicina, ciências ambientais, biologia e educação, com uma base de formação capenga? Que possam contribuir efetivamente para a formação e constituição de um país que separe, claramente, os valores religiosos, de foro íntimo, de valores científicos universais? Com a palavra, o MEC.

Roberto Gomes de Souza Berlinck, professor associado do Instituto de Química de São Carlos (USP), é doutor em ciências pela Universidade Livre de Bruxelas (Bélgica) e realizou pós-doutorado na Universidade da Columbia Britânica (Vancouver, Canadá).

Hamilton Varela, professor doutor do Instituto de Química de São Carlos (USP), é doutor em ciências pela Universidade Livre de Berlim (Alemanha) e realizou pós-doutorado pela Universidade Técnica de Munique (Alemanha).

fonte:
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=61632
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3 comentários:

Roberto G. S. Berlinck disse...

Prezado Adriano,

Agradecemos, o Hamilton e eu, pela divulgação de nosso artigo em seu blog.

cordialmente,
Roberto Berlinck

Anônimo disse...

Boa noite Adriano,
Gostei muito do texto, realmente é muito interessante, ver todo o processo histórico para esta discussão hoje. Quero convida-lo para conhecer meu blog, ele fala sobre Criacionismo Científico:
www.criacionismocientifico.blogspot,com

Abraços
Paulo Castro

Anônimo disse...

Boa noite Adriano,
Gostei muito do texto, realmente é muito interessante, ver todo o processo histórico para esta discussão hoje. Quero convida-lo para conhecer meu blog, ele fala sobre Criacionismo Científico:
www.criacionismocientifico.blogspot,com

Abraços
Paulo Castro